29 de fevereiro de 2008

Dois Meses

Dois meses de blog. Nunca minha produção artística foi tão abundante. Devo ter escrito quinze poemas nesse ano. Em 2007 foram 7 ou 8. Muito bom. Para minha surpresa, porque não imaginei que manteria 10 postagens por mês. O blog tem servido e vai servir para isso, aumentar minha responsabilidade como artista, poeta. Bom. Outra função é me libertar do receio de exibir aos outros meu hobby; do medo de ser medíocre, de escrever mediocremente. Tá funcionando.

Além disso, agora, vou buscar outra coisa. Leitores. Porque, afinal, como um escritor comum, eu preciso e quero ser lido. Escrevo para mim, lógico. Mas como se eu fosse outro. Nada mais útil, então, que os outros que não existem em mim me leiam, me apreciem e me avaliem.

Algo que senti falta, no entanto, foi das discussões sobre a arte de escrever. Aqui só encontrei elogios. E eu sou vidrado em críticas. Mas já dei solução para essa minha necessidade.

Enfim, estou satisfeito, conhecendo pessoas interessantes e inteligentes, lendo mais, evoluindo meu estilo, minha técnica e entendendo os gostos (ou enxergando os rostos) da poesia contemporânea.

E é isso. =)

16 de fevereiro de 2008

Cão de Lata Atada ao Rabo

Ano Machado de Assis. Todo mundo sabe. Todo mundo prestigiará à sua maneira. A Flip vai homenageá-lo. Editoras vão lançar edições modernas e comentadas dos seus livros. Os jornais publicam artigos, crônicas, blablablá. Escolas vão forçar seus alunos a ler seus romances para passar de ano. E muita gente vai tirar algum livro do Machado da prateleira, nem que seja para folhear. Eu pretendo ler Helena, Brás Cubas, Quincas Borba e Memorial de Aires. Inéditos.

Não vou fazer comentário algum sobre a genialidade, o estilo, ou o corte de cabelo do Machado de Assis. Vou estrear o Ano com um poema que surgiu essa semana, baseado num conto que eu gosto muito — Cão de Lata ao Rabo —, e que me dava muita vontade de escrever algo sobre; dando ao mote, minhas voltas. O título está no nome da postagem.


Cão de lata atada ao rabo
se alegra com a evolução tecnológica dos produtos alimentícios.

Hoje, a lata de óleo não é mais lata,
é frasco de plástico;
molho de tomate agora imita
requeijão — que vem num copo.

E, daqui pra frente, cada vez mais,
azeite, goiabada, figo em conserva, refrigerante, cerveja, etc.
serão embalados e distribuídos
em copos, frascos, potes, garrafas e vasilhas
de vidro ou plástico.

Então, quando a lata no rabo do cão
se desatar,
será mais difícil encontrarem outra
que a possa substituir.

13 de fevereiro de 2008

Gustavo

Baixo, alto, baixo: a náusea de um vômito engolido, seguido de um chiado rasgado e um estalo aberto, escancarado, desarmônico, que termina raspando, irritante, no vômito contido nos lábios de quem chama.

O Vizinho Gordo

Hm. Fome. Acho que vou comer. Tem macarrão no armário. Mas não tem molho. Tem pão francês de ontem e maionese. Mas ele deve tá duro. Ou mofado. Pizza? Não. Não quero gastar. O chocolate acabou. Tem lasanha congelada. Mas é pro almoço de amanhã. Se eu almoçar na rua... Um cachorro-quente no tiozinho da esquina do trabalho. Mas eu não quero gastar. Mas cachorro-quente é barato. Mas eu não como de pé. Ou andando. Incomoda. Então, na lanchonete da esquina da rua de trás. Lá tem uma tvzinha barulhenta, até. E tem uma garçonete gostosa. Eu comeria ela. Comeria a moça do caixa também. Ela é muito magra, mas quem liga. O dono da lanchonete deve comer as duas. Japonês safado. Nem catchup ele coloca no balcão. Odeio sachês. Odeio aquela tvzinha barulhenta. Odeio aquele lugar. Amanhã, vou comprar uns biscoitos e correr pra casa. E sofrer de gastrite a tarde inteira. Quase onze horas, agora. Preciso tomar banho ainda. Acordo mais cedo amanhã e tomo. Hoje eu só jogo uma água no corpo. Eu posso almoçar na minha mãe. Ela pode me dar algum dinheiro. Aí eu vou ao mercado. Faz duas semanas que acabou o queijo. E a cerveja. Ou eu pago o pedreiro. E compro mais cimento pra reforma. Ele deve comer concreto no almoço. Aquele vagabundo. Sempre tá faltando cal, tijolo, arame. Pinguço. Ladrão. Se a minha mãe não morasse tão longe. Se eu for lá, chego atrasado no serviço. O trânsito é foda. E a velha reclama demais. Não tô a fim de ouvir as merdas dela. O queijo, o pedreiro, e a minha mãe esperam até o domingo. Se fosse na época da escola, era só roubar o lanche de algum moleque mais novo. Já era. Hm. Sono. E então. Como ou não como? Se eu for dormir, durmo com fome. Mas dormindo eu nem percebo. Só que acordo com o estômago no chão. Aí eu como o pão de ontem. Com maionese. E almoço lasanha. Em casa. É. É isso.

6 de fevereiro de 2008

Explicação

Os anjos são eunucos do Paraíso.
Paraíso não tem virgens, não é harém.

Os demônios foram expulsos porque faziam fio-terra.

3 de fevereiro de 2008

seu lábio
escorre
e salta
em riso.

vermelho
e denso,
tão úmido,
escorre.

molhado,
na pele
de rã
ou sapo,

seu riso
me encanta —
enorme
brejeiro.



*versão compactada especialmente para o blog. ^^