31 de março de 2008

1º Prêmio

Adiante, um haicai que eu fiz para participar do Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato. Esse concurso pagará três mil reais ao primeiro vencedor, que, com certeza, seria eu, se não precisasse de um único poemazinho para fechar a série desse mês de março. Como, na minha cabeça, terminar o mês com dez poemas é mais importante que qualquer prêmio que eu possa receber, desisto da remuneração e transcrevo as três linhas seguintes vendo escorrer pelo teclado mil reais a cada clique no Enter.



verão ardia em mim
sequei seu sol febril com
paracetamol

28 de março de 2008

Soneto do Nego Safado

"Loirinha, cafungada do negão é um problema!"
Raça Negra

Meu preto lindo, forte e saboroso,
me pega agora e cheira meu cangote.
Seus lábios grossos falando ao meu ouvido
me arrepiam e me deixam toda mole.

Seu braço negro, mais escuro que o ébano,
segura-me a cintura com vontade
de, a noite inteira, me fazer gemer
debaixo do seu corpo enorme e forte.

Mas solta logo que o pagode acaba;
me deixa no desejo de ser sua,
ainda rebolando o fim da música.

Você, meu nego, vai atrás de outra saia
que dance e fácil se entregue ao seu charme
e nunca o esqueça, meu preto safado!

25 de março de 2008

gordinha

gordinha de rosto redondo a brilhar sob o sol da manhã,
seus olhos de amêndoa, pequenos, inchados, me fazem sorrir.
a boca que enfeita sua face me encanta, se come a estourar;
se enche a barriga, tão lisa, tão mole, me explodo em tesão.

saudável é seu beijo de almoço, de lanche, de doce ou jantar.
gostoso é abraçar, é pegar o seu corpo pesado, um barril.
desejo passar toda a vida ao seu lado, gordinha, meu bem,
gastar meu salário cevando você, minha eterna paixão!

23 de março de 2008

infâmia!

ai, não!
cortem minha mão!
me estrangulem
mas evitem que as rimas pobres
(que essas cínicas rimas fáceis),
como limas podres,
desçam pelo pescoço,
pela veia ou pelo osso (!),
e caiam, esbagaçadas,
conjugadas no mesmo tempo
e modo verbal,
de mesma classe
gramatical,
e rolem pelo papel,
fedidas e esbagaçadas,
repetidas e repetidas,
para sempre!

18 de março de 2008

saudade I

saudade é uma parede
verde, de um erva-doce,
suave, nua, iluminada,
que estivesse, talvez, num hall,
num corredor, e não tivesse
em si aquilo que nunca
deveria faltar:
um espelho,
bem no centro.

14 de março de 2008

Auto-Estrada

Tem serpente
semelhança
de auto-estrada,

construída
pela ânsia
de mover-se

pela forma
infinita
e sinuosa.

De ansiedade
vibram guizos:
atropelo

nas escamas
de concreto
colorido

corre o espaço,
venenoso,
assassino.

A bocarra
escancara
em viaduto;

bifurcada,
se contorce
e raivosa a

cauda engole:
se transforma em
Oroboros.

precisamente

com trinta e cinco mil
quinhentas e quarenta e duas
cajadadas,
matei dois
coelhos.